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Carta do Paraná Clube ao Futebol

19 de julho - Dia do Futebol

Eu quero passar nossa relação a limpo. Pelas vezes em que vi meus filhos chorando, vou colar no alambrado enferrujado e gritar com todas as minhas forças numa noite fria de sair fumaça da boca: “eu odeio você”.

Quero te dar um abraço apertado debaixo de chuva, pois bandeiras molhadas carregam o peso da minha paixão. Na explosão do gol, quando as redes chacoalham o orvalho, eu não me importo com meu estádio sem cobertura. Eu não sou de açúcar, mas me derreto por você. Eu te amo.

Vou te pedir desculpas pelas vezes em que cobrei escanteio curto, quando me livrei da bola e chamei aquilo de lançamento, quando atrasei a gorducha pros meus zagueiros; por todas as vezes em que fui covarde na ousadia da arte que é praticar você.  

Vacilei quando contratei estagiários e apresentei como jogadores, quando não balancei o capim no lance cara a cara com o goleiro, quando os ponteiros do relógio da Vila se arrastaram em agonia numa partida fedida de ruim. Me perdoa.

Mas, você foi duro comigo. Nas vezes em que escrevi a poesia com os pés gingados no relvado e você me deu a trave. Ou quando aquele filho da p#%@ não marcou o pênalti criminoso que sofri pra mudar a partida. Naquele gol cagado que tomei aos 48; nessa quase década de Série B. Pega leve, p#rr@!

Pega leve e lembra daquele dia que você não resistiu ao meu encanto. Aquele dia em que o Mirandinha botou pra dentro de calcanhar. Dos dias em que invadi e calei o terreno inimigo. Das goleadas que apliquei no Maraca e das vezes em que eu parecia a Alemanha despachando os rivais da minha cidade.

Lembra de todas as vezes que te abandonaram em nome da gourmetização do esporte e eu me mantive ali, com meu porta malas cheio de foguetes, te fazendo respirar a fumaça dos meus sinalizadores vermelhos, azuis e brancos; transpirando o suor da minha nação, do meu povo, da minha raça.

Não importa o nosso humor: quando o apito soa e o grito de todas as vilas ecoa, a gente se ama ou a gente se mata. E nossa relação não se desgasta porque nos reapaixonamos a cada rodada.

Futebol.

São 26 anos de prazer e pranto.

E apesar de eu ser um garotão,

sua história não seria tão linda

sem o meu manto.

Obrigado. Parabéns. Pega leve.

19 de julho – Dia do Futebol

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